terça-feira, 6 de novembro de 2007

As aparências enganam - Tunai



“As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam, porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões. Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague. Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são o alimento, o veneno e o pão, o vinho seco... a recordação dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver.
As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam, porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões. Os corações viram gelo e depois não há nada que os degele. Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser, não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar... não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor.
As aparências enganam aos que gelam e aos que inflamam, porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões. Os corações cortam lenha e depois se preparam pra outro inverno. Mas o verão que os unira ainda vive e transpira ali... nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera, no insistente perfume de alguma coisa chamada amor.”

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O tempo e a rosa - Paula Laís

"Foi o tempo que perdeste com tua rosa, que fez tua rosa tão importante..." (Antoine de Saint-Exupéry)




Tempo... palavra mágica e poderosa. É ele a cura para todos os males, o mestre que carrega em seu colo a maturidade, a resposta para todas as dúvidas...


Às vezes teimamos em lutar contra o tempo! Pedimos a ele que passe depressa, ansiamos pelo amanhã. Noutras vezes, lhe imploramos que passe bem devagar, pra que aquele momento maravilhoso dure bastante. Mas o tempo não pode nos obedecer. Nós é que devemos nos adaptar e aproveitar todas as experiências que ele nos permite vivenciar!





Há alguns dias ganhei uma nova rosa. E não vejo a hora de vê-la desabrochar, pois sinto que essa rosa é mais especial que qualquer outra. A semente dessa rosa foi trazida por uma brisa diferente... meio doce, cheia de harmonia...
Ah, como estou ansioso. Mas vou aproveitar o tempo que ainda resta até a rosa desabrochar. Vou cuidar bastante de mim, e de meu jardim também, pois quero que ele esteja maravilhoso no momento em que minha rosa nascer. E além de cuidar de mim, cuidarei também dela... da minha rosa! Vou regá-la todos os dias, protegê-la das pragas e dos animais grandes, colocá-la ao sol, e até contar histórias, se assim ela desejar. Porque eu quero que essa rosa desabroche no momento certo, e que seja o sonho mais lindo e apaixonante de que se tem notícia.



Rosa, minha querida rosa, prepare-se para mim. Você tem todo o tempo do mundo para se mostrar. A única coisa que eu te peço, minha rosa, é que venha para sempre, e venha no tempo certo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ela faz cinema - Chico Buarque


"Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual
Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz
Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim..."

sábado, 25 de agosto de 2007

A mais bonita - Chico Buarque


"Não, solidão, hoje não quero me retocar

Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas

Deixo que as águas invadam meu rosto

Gosto de me ver chorar

Finjo que estão me vendo

Eu preciso me mostrar bonita

Pra que os olhos do meu bem

Não olhem mais ninguém

Quando eu me revelar

Da forma mais bonita

Pra saber como levar todos os desejos que ele tem

Ao me ver passar bonita

Hoje eu arrasei na casa de espelhos

Espalho os meus rostos e finjo que finjo que finjo

Que não sei..."

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Só de sacanagem - Elisa Lucinda



"Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?

Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.

Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!

Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal".

Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!"

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Quando encontrar alguém - Carlos Drummond de Andrade



"Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água, neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar junto chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca você receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, se entregue: vocês foram feitos um para o outro.

Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o AMOR."

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O país das atrizes - Oswaldo Montenegro



"E cada personagem é o fascínio
E não há quem possa explicar
A mágica do mágico na minha alma de atriz
Há de transformar
A pérola dos olhos ilumina o que eu for
Onde quer que eu vá
E cada personagem é a menina que eu fui
E a que virá
E o rosto da pessoa que eu quero ser
Está em cada rosto que eu me pintar
E cada mil pessoas que eu for fingindo que serei
Eu serei quando alguém vir em mim o que ele será."